No Brasil, 47% dos trabalhadores acham normal sentir estresse e ansiedade no trabalho, de acordo com o Anuário Saúde Mental Nas Empresas 2023, do Instituto Philos Org em parceria com o Portal Integridade ESG. Esses dados ligam um sinal de alerta para um tema cada vez mais relevante: a saúde mental no ambiente de trabalho e o desenvolvimento de doenças ocupacionais como a Síndrome de Burnout.
Com mais casos a cada ano, a síndrome de Burnout já atinge cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros, segundo dados Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt). Além disso, o número de afastamentos pela enfermidade aumentou quase 1000% de 2014 para 2023, pulando de 41 para 421 afastamentos anuais, de acordo com registros do INSS. Assim, uma solução que muitas pessoas encontram para contornar um ambiente de trabalho tóxico é realizar uma transição de carreira, que, nesses casos, pode acabar se tornando uma necessidade.
Nesse contexto, quem detalha como uma mudança de área pode ser positiva é o especialista em transição de carreira e diretor da Transite, Vinícius Walsh. “Quando a exaustão se torna constante, mesmo após períodos de descanso, e a produtividade despenca, isso pode ser um sinal de que a carreira atual não é mais sustentável. Além disso, se a saúde mental e física estão comprometidas, a situação exige atenção. Outro ponto essencial é o ambiente de trabalho: se a cultura organizacional é tóxica, marcada por excesso de cobrança, falta de reconhecimento e desrespeito, insistir nessa realidade pode apenas agravar o quadro. Trocar de “emprego” nem sempre é sobre dinheiro; muitas vezes, é sobre encontrar um espaço onde haja respeito e reconhecimento”, explica.
Entre os principais sintomas da doença, pode-se destacar insônia, ansiedade, dores musculares e, principalmente, crises frequentes de estresse. Assim, é importante avaliar até quando se manter em determinados ambientes compensa profissionalmente em detrimento de uma maior qualidade de vida.
Muitas vezes, o que impede uma mudança é a insegurança de migrar para uma nova área. Contudo, é importante destacar: ninguém começa completamente do zero - é possível aproveitar habilidades desenvolvidas ao longo dos anos em novos contextos, em especial as soft skills. “O primeiro passo para superar esse receio é reconhecer o próprio valor e entender que a mudança pode ser um caminho para uma vida mais equilibrada. Em seguida, buscar um propósito alinhado aos próprios valores, garantindo que a nova escolha profissional traga realização e não apenas segurança financeira”, reforça Vinicius Walsh.
O especialista ressalta que algumas estratégias são positivas durante uma transição, tornando o processo mais eficiente e tranquilo. Para isso, ele recomenda investir em aprendizado contínuo, seja por meio de cursos, mentorias ou novas conexões no mercado. Outra forma de reduzir o impacto da transição é testar a nova carreira antes de uma mudança definitiva, com trabalhos freelancers, projetos paralelos e experiências temporárias, que ajudam a validar uma nova trajetória profissional com menos riscos. Planejar financeiramente esse movimento também é essencial, garantindo mais tranquilidade durante o processo.
No entanto, mudar de emprego ou profissão por si só não é a solução de todos os problemas. Vinicius Walsh explica que se os padrões de comportamento e as escolhas profissionais não forem revistos, o problema pode se repetir. Desse modo, é fundamental escolher um ambiente de trabalho saudável, onde a cultura organizacional valorize o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Além disso, estabelecer limites claros desde o início da nova jornada contribui para não cair na mesma armadilha do excesso de trabalho.
Outro fator importante é trabalhar com propósito, ter clareza sobre os próprios objetivos profissionais pode tornar a rotina mais gratificante e reduzir as chances de exaustão. Afinal, a transição de carreira não deve ser apenas uma troca de função, mas sim uma mudança consciente para um futuro profissional mais saudável e alinhado com o que realmente importa.
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