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Salvador, BA

Mapin: o compositor do hino de Ipiaú

Formado em Odontologia, foi na arte que Mapin encontrou sua vocação.

24/04/2025 às 14h05
Por: Estágio Fonte: José Américo Castro
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Mapin em foto tirada por Evandro Teixeira
Mapin em foto tirada por Evandro Teixeira

 “No Rio Novo Tênis Clube sou uma anônima humildade, recebida entre versos pelo advogado Marques Filho. Na mesa do Galo Vermelho, o mecenas Protógenes Jaqueira me põe diante do Rio das Contas, pródigo de pitus. Odilon Costa, um efetivo embaixador da alegria, em torno do melhor drinque e da mais requintada postura - porque, agora é hora de se ouvir o vitorioso compositor da terra, Manoel Pinto (Mapin), um nome nacional a partir de Céu de Estrelas, repetindo à frente da orquestra do Mestre Lôla, a Exaltação a Ipiaú, um samba, que pela beleza que guarda, não deixou de constituir um apelo sentimental às novas gerações da cidade, formadas aos pés do educador Salvador da Matta”.

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Este depoimento do poeta e jornalista Jehová de Carvalho, um dos ícones da antiga imprensa baiana, foi dado no ano de 1958, durante os festejos do Jubileu de Prata (25 anos) da emancipação política de Ipiaú. 
Ele expressa a admiração dos velhos ipiauenses ao conterrâneo Mapin que, 25 anos depois, presentearia a terra natal com um belo hino. 

"Na fibra e na coragem do teu povo, reside tua riqueza Ipiaú/Histórias do saudoso Rio Novo, são lembradas no Norte, exaltadas no Sul./Salvem os pioneiros que um dia chegaram, e que plantaram os teus cacauais/Dando a semente, do teu presente/Crescendo mais e mais.../Ipiaú, meu bem querer/ Teu Rio de Contas tranquilo a correr/Ipiaú, que bom lembrar, teu céu de estrelas sempre a brilhar".

A peça literomusical é resultado de uma parceria com outro jornalista e poeta (Jairo Simões) que, definitivamente, marcaria o sentimento de tantos quantos nasceram, habitam, habitaram ou visitaram o lugar.
Manoel Pinto nasceu em berço de poesia e musicalidade. 

Filho de dona Sinhazinha e do major Albertino Pinto, excelente flautista e fundador da primeira filarmônica da cidade, Mapin cresceu em campo harmônico, presenciando o rio de Contas tranquilo a correr e o céu de estrelas sempre a brilhar. Formou-se em odontologia, exerceu a profissão, mas foi a cultura artística quem lhe trouxe felicidade. 

Em Salvador participou de rodas de samba com Batatinha, Ederaldo Gentil, Claudete Soares, Paulinho Camafeu e outros bambas que engrandeceram a música baiana. Cultivou amizades e parcerias com inúmeros intelectuais. 

Frequentou o Tabaris, casa de espetáculos, que contava com orquestras nacionais e internacionais, animando suas noitadas. Curtiu a boemia com intensidade.

O médico cardiologista José Alberto Martins da Matta, lembra que Manoel Pinto, era, além de um grande artista, uma alma grandiosa. “Cheio de simplicidade, a todos servia e ajudava, no máximo da sua possibilidade".
O médico ipiauense diz que ouviu do seu pai, Dr. Salvador da Matta, a seguinte história:

" Mapin teria ido ao Palácio Rio Branco, quando Lomanto Júnior governava a Bahia. Ao ser avisado da presença de Mapin, Lomanto teria falado: Manda entrar o compositor de Ipiaú!. E em um ímpeto, o governador se levantou, abriu a porta, e com aquele vozeirão cantou Céu de Estrelas, enquanto Mapin adentrava em seu gabinete sem os conformes burocráticos!".

Bom músico, bom poeta, bom amigo, Mapin deu uma força ao genial Evandro Teixeira, ao apresentá-lo, em 1952, a Walter Lessa, fotógrafo do Jornal Jequié, que junto com Teotônio Rocha indicariam ao rapaz da Rolleiflex a nitidez do caminho do sucesso.

Coube a Evandro Teixeira registrar a imagem em que Mapin aparece ao lado de duas crianças, num diálogo de gerações. O próprio Evandro conta: "Essa foto foi clicada na minha casa, no Rio, ao lado das minhas filhas Carina e Adryana. Também quero registrar minha profunda gratidão ao Mapin".

As escolas de Ipiaú precisam dizer aos seus alunos quem é o autor do belo hino do município, contar sua história,  homenageá-lo, reconhecê-lo da melhor maneira possível.


José Américo Castro, jornalista.

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